21 de dezembro de 2010

Diario 29?! Crime...

Às vezes eu paro e fico imaginando o comportamento das pessoas. Não que eu queira parar e ficar admirando, mas meu jeito é assim e quando dou por mim já parei e refleti. Ainda não tenho comando de tudo em mim, isso é um fato concreto.

Dos fatos abstratos é que não consigo entender os outros. Tento por vezes me espelho em algumas atitudes e algumas ações alheias, mas elas me soam asquerosas. Não consigo agir dessa maneira.

Não sei julgar o certo e o errado. Mas de fato penso ser um ou outro, ou é certo ou é errado. Eu não sei mais como sou e como devo agir. Não quero mais que saiba quem sou. Me julgo ser serena, pura e ingênua, mas quando faço um exame de consciência, percebo que sou também asquerosa.

Asquerosa no sentido de que amo intensamente, quando deveria repudiar...amo intensamente na medida que não posso amar, meu tempo já passou, além do mais nem todos merecem meu amor...amo na medida de dizer quem sou e ser amável em todos os sentidos, e isso é errado......amo na medida em que era necessário mentir, mas minha natureza disse a verdade com todas as letras que se podia dizer.

Deixo que os outros produzam provas contra mim mesmo, dou á eles estes subsídios. Não posso reclamar. Estou agora presa, sem direito a defesa alguma. Meu crime? Ah não pergunte, posso me complicar ainda mais, pois não sei mentir, mas de agora em diante vou tentar, eu juro que vou.

Mas como sei que quer saber, meu crime foi: ser sincera demais e amar demais...e por hora cometo mais um, dizer a verdade!

Agora andarei como todos andam, mentindo, escondendo-me, repudiando os outros, ignorando os afetos, exaltando falsidade e inalando a droga da ignorância... acho que e agora estou fazendo como todos fazem e julgam ser o certo, estou mentindo!

Condene-me. Mas absolva-se se for capaz!

Márcia Alcântara
Verão de 2010

Diário 28?!

As coisas são todas estranhas. Sinto uma estranheza em todos os lados, e em mim. Por hora sei que sou e o que quero, mas em questão de instantes, tudo volta pro lugar certo ou errado, não sei direito!

Atordôo-me com muita facilidade e meu eixo deixa de ser meu centro. Fico estática e parada sem saber o que fazer ou que sentir... mas é quando de repente um onda de sentimentos me invade, e então fico afásica!

Me sinto confiante, elegante... mas, minha vida é repleta de mas...e mais uma vez no meio de tantas coisas que existem no mundo me deixo de lado...sinto o cheiro da chuva, o barulho do mar, gosto do chocolate meio amargo, sinto a textura da pele alheia e vejo a ternura nos olhares, mas não sinto-me.

O mundo então, parou... mas na vida de mas, eu sai e na noite bela e de vento suave, fui olhar a lua, mas ela estava encoberta pela camada tenra da terra. Queria esquecer de tudo o que o é bom ou o que é ruim... detesto jogar, e partir e agora não sou mais quem eu era antes. Não quero que sintam mais meu perfume.

Por hora não sinto nada...e a tudo eu, sinto!

Márcia Alcântara
Esperando que a primeira chuva do Verão lave minh’alma - 2010.

15 de dezembro de 2010

Diário 27?!

Inquietação
Almejamos o tempo inteiro e vivemos para conquistar. Não sabemos de princípio o que queremos, mas vivemos a querer. Tanta luta, que por vezes se torna até mesmo uma tortura, que alterna em nós, internamente e externamente, momentos de felicidades.

Pré-conquistas elaboradas, pré-requisitos conseguidos, com suor e esforço, e sempre a recompensa do esforço feito é obtido. Sempre novos e novos projetos...

Alegria por descobrir que se pode ainda mais, e então, seguimos cegos em nossas querenças e mais querenças. Por vezes não enxergamos ao lado, ou mesmo o perigo que vem á frente. Vamos sempre adiante e diante, querendo sempre mais e mais. Descobrimos novas palavras, novos conceitos, novas formas de viver. Desprezamos o que achamos não mais servir e cegamente lutamos com nós e intimamente e discretamente com o outro.

Mas de tudo isso, de todas estas querenças, que um dia conseguimos tornar verdadeiras em nós e para nós, sobra algo que corrói e não explica-se, que dói e não se tem remédio. A angústia domina o ser e vai fazendo com que vivamos essa vida que não conseguimos explicar.
Não conseguimos explicar a nossa vontade sendo realizada. Que tipo de realização é essa? Que machuca e que faz com que sintamos uma sensação de morte?

Luto agora comigo mesmo e tento estar feliz, mas não consigo. Quem sabe este seja um novo projeto de vida: ser feliz. Mas ao que tudo indica essa felicidade não pode nunca ser conseguida ou alcançada, ela seria o fim de tudo em mim e para mim.

Márcia Alcântara
Dias angustiantes de primavera 2010

10 de dezembro de 2010

Diário 26?!

Ao estar comigo deve saber que não sei nada. Compreender que nem eu me compreendo. Sou infinitamente perdida dentro de mim mesmo. Não se surpreenda. Sou muito pequena quando refiro de mim. Amo infinitamente quem se esta o meu lado. Sou sincera, amiga, amante. Não gosto de fazer uso dos conceitos, todos eles são diferentes do que dizem. E em mim isso se torna evidente. Detesto cobranças.

É importante entender que não sou como todo mundo. Todas as coisas para mim possuem outro valor que não o convencional, inclusive o tal do amor. Nada em mim é de mentira, assim como nada é de verdade, tudo em mim sou eu! Não acredito na traição. Acredito que cada pessoa é.

Se pretendes estar na minha vida, entenda que só estás por que ganhou –me, ganhou meu coração e minha confiança, meu ser. E assim entrego-me de corpo e alma. Nunca sou extremamente feliz, e nem extremante triste, estou e sou a minha própria condição. Não gosto do doce e nem do azedo, gosto do que me faz sentir eu mesmo, e quando me sinto angustio-me. Essa angústia me leva a diante. Não me critiques, por hora sou assim.

Gosto de você nessa medida. Na medida que entende a mim como eu e não como você. Amo-te na medida que compreende que nem eu me compreendo. Entrego-me quando sentir que você também não me entendeu. Sou sua. Assim eu sou, quando nada não é.

Márcia Alcântara
Primavera de 2010

5 de dezembro de 2010

Diário 25?!

Não sei mais o que esperar dos dias, das tardes, das noites... ando a espera de muito e tenho a sensação do nada. Preservo-me para que não pareça que quero tudo, mas esta ficando difícil esconder. Tendo escapar de mim, de ti, do mundo... mas nada parece funcionar.

Ando tão a flor da pele!

Encontro um ‘mas’ em tudo e em todos, nas horas, nos minutos nos segundos, na minha vida, na sua, na vida dos outros. Existe algo em mim que não consigo falar e nem escrever, enfim, não posso extrapolar, é errado, é certo, exagerado. A ansiedade domina meu ser, que mesmo sem eu querer, invade-me. Choro. Todo o tempo sem saber os motivos. No fundo no fundo até sei, mas não adianta entender.

Ando tão a flor da pele!

Sem saber aonde ir, sem saber onde quero chegar. Cega para o que consegui, cega para o que vai chegar. Tonta e perdida na clareira da vida... do escuro tenho medo, mas na luz não enxergo. Procuro algo que me preenche, mas cheia me sinto.

Ando tão a flor da pele!

Quero-te e não quero-te. Sou e não sou. Entendo e desentendo. Procuro e não encontro. Encontro e não quero mais. Não sei o que acontece, finjo não saber. O que? Se algum dia já me conheci? Não pergunte-me isso agora, seria muito complicado responder...

Ando tão a flor da pele!

Márcia Alcântara
Tarde de primavera que chove, onde de manhã o sol reinou e a noite não terá Luar...

1 de dezembro de 2010

Diário 24?!

Não tenho opção quando abro os olhos de manhã. Já não reconheço o que me faz bem e o que me faz mal. Muitas vezes tento ver positivamente as infinitas possibilidades de um dia que é finito, mas não é que acontece. Tenho vontades possíveis que se mostram impossíveis. E o que é impossível surge com uma freqüência estranha.

Tudo a minha volta parece conter algo perturbador. O que é bom me tira a atenção assim como o contrario também é verdade. O dia clareia, faz sol e vem a chuva...não há estabilidade nem na natureza, quem dirá em mim.

Cobro-me e tento fazer com que tudo saia corretamente certo. Amar quem devo, admirar quem conheço, ser educada e prestativa... mas, meu coração não anda mais correto, quero xingar, fazer o errado, falar verdades nunca ditas... De felicidade á incertezas, assim meu ser parece seguir para algum lugar que não me contou. Talvez ele também não saiba onde quer ir. Devo então perdoá-lo. Mas o que é mesmo o perdão?

Apenas me sinto um tanto quanto cansada. Cobranças internas e externas parecem dominar a minha vida. Vida incerta, vida incorreta... existência certa e odisséias corretas. Tudo muito certo e muito justo. Sempre! Mesmo o que não é. E o que é justo e certo mesmo? Quando se trata de mim, eu não sei dizer! Detesto conceitos.

Sei apenas que os dias passam, e me (des)conheço ainda mais. Sei que o tempo se vai e eu estou apenas chegando para mim mesmo. Tudo parece ser um tanto estranho, mas assim também eu sou.

Escrever é um modo de escapar de mim, daqui e de lá.

Márcia Alcântara
Primavera perturbadora 2010

29 de novembro de 2010

Diário 23?!

Pensei que o tédio e a raiva fossem apenas passageiros, e que estes desembarcariam da plataforma de meu ser, numa estação próxima. Mas não. Tornaram-se viajantes tranqüilos e fizeram de mim morada. Passou o inverno, e agora na primavera por aqui continuam.

Não são bem vindos. Na vida movimentada, imaginei que não haveria espaço para mais estes dois. Mas estes, na bagagem ainda trouxeram consigo o ciúme. Que agora, meu ser nem mesmo consegue respirar. Desde que o ar lilás se foi, nada mais tem sabor. O prazer virou algo banal e a vida, carregada de uma energia do qual o universo ainda não conseguiu me passar os componentes, perdeu o sentido. O amor não se mostra, e a Lua, ah Lua, não tem mais o mesmo brilho de antes.

Mas, quanto a mim, mesmo assim escrevo, por mais que não consiga compreender a vida ou a mim, externar me palavras ainda é o melhor remédio para minha cura.
Márcia Alcântara
Primavera 2010

11 de novembro de 2010

Desabafo mal feito

Sempre que me coloco a pensar, luxo este que não consigo me livrar, imagino as infinitas possibilidades que há ao redor da vida. E não é incomum perceber que não se desfruta dessas possibilidades.

Há sempre uma visão deturpada da vida e das pessoas que nelas estão. Há nas pessoas uma má vontade em entender o próximo, há uma má vontade de se entender os porquês da vida. Dizem que colhemos o que plantamos. Mas isso não é verdade, pois, mesmo que se plante o bom sentimento e a admiração pelas pessoas, o respeito a elas, não há mais como colher isso de volta. É como se os passarinhos tivessem comido estas sementes, mas eles não são maus, apenas estão garantindo seu sustento. Talvez o mesmo esteja fazendo aquele que não sabe ser recíproco com o que recebe.

Mas meu sustento depende do amor que recebo, e é por isso que vivo a cair com muita freqüência. Não enxergo mais a possibilidades de novos caminhos. Não enxergo mais o bem querer das pessoas, e mesmo que ao meu lado, parecem vestir uma fantasia, pois não são eles que estão ali. É como no dia das bruxas que, na simbologia fantasiam-se e maquiam-se para se esconder dos visitantes do submundo. Não sei ao certo o porque fazem, mas fazem e esta tão nítido como as flores da primavera ou as quaresmeiras que florescem nas montanhas.


Mas é fato que ao perceber todas estas pessoas camufladas em seus instintos, o máximo que se pode fazer é silenciar e não dividir mais as alegrias. É melhor permanecer no silêncio para que não seja entendido de forma errônea. E assim sendo a alegria e a vontade de dividir, fica longínqua e mais próximo é apenas um mau sentir, que não deixa de ser uma das infinitas possibilidades da vida. Não tente entender esses sentimentos, pois somente ao ser que sente, cabe saber o que é, além do mais, não desejo para ninguém o desfrutar dessa possibilidade. A possibilidade de desistência das pessoas a quem um dia muito se amou.

Márcia Alcântara
Manhã chuvosa de primavera 2010.

19 de outubro de 2010

Diário 21?!

Gostaria muito de saber por que o externo me afeta com tanta precisão. Nem eu tenho tanta precisão assim. Não consigo expressar com tanta clareza como sou afetada pelas coisas alheias e fatos exteriores a mim.

Tudo isso tem se tornado muito mais freqüente que antes. E isso, por vezes, parece estar fazendo de mim um ser, eu diria, um tanto quanto arrogante. A arrogância não faz e nunca fez parte de mim. É algo que abomino. Mas, minha alma e meu sentir parecem estar adoecendo desse terrível mal humano. Sou humana, mas eu diria não dessa “etnia”, sei lá como faço para ser compreendida.

Esse mundo, de agora, parece estar querendo sugar-me. Mas resisto, e não quero desfrutar dessa ironia e dessa arrogância. Minha vida é mais leve que isso. Sou um ser de sentires e palavras ritmadas... de palavras doces e de palavras melancólicas. Sou um ser de verdades e de amores! Pretendo vencer sendo o que sou. Não quero mentir e muito menos dizer e ser o que não sou. E se assim me for imposto, não mais serei e deste mundo desistirei! Procurarei por um onde eu possa ser o que sou, dizer como quero que entendam. Um lugar onde mesmo em silêncio poderei ser compreendida. Por aqui o falar anda corrompendo e comprometendo... E o silêncio, assim como o falar, anda incompreendido... Não si mais como continuar por aqui.

Mas, fatores externos andam afetando muito a mim.

Márcia Alcântara
Primavera gelada de 2010
Ah, não fiz correções na postagem, esta como meu puro sentir e errada ou não sinto mesmo assim!

9 de outubro de 2010

Diário 21?!

Talvez me fizesse muito bem contar o que fiz e o que sinto, contar tudo o que tenho vivido. Mas não, não é possível, não existem palavras que possam expressar a alegria e o contentamento do feito. Não, não há palavras que possam exprimir o que senti e o que sinto a todo momento.

Euforia e vazio. Talvez estas duas possam sintetizar, mesmo que mínimo, meus sentires. É uma certa euforia de ontem para hoje. Imagino que será um vazio de amanhã para depois.

Alegria e tristeza. Sentires do mesmo tempo, na mesma temporada de vida. Alegria de hoje, mas com a batida leve da tristeza em meu peito. A tristeza de ontem, com leves batidas de alegria no meu coração. Para amanhã eu tenho medo de dizer o que sinto.

O passado parece me prender. Não quero crescer. Mas a pequinês não é bem vinda. Do futuro eu tenho receio, mas o presente me dá aversão. Estou apavorada no meio da floresta fria e sombria. E da clareira? Eu tenho medo. Lá pode ser muito quente e não haver sombra para me proteger do Sol, a luz pode me cegar por há muito viver na escuridão. O que farei na clareira em noites sem luar?

Vou andando. Vou parando. Eu sei que vida anda, ou melhor a vida me empurra. Mas sei muito bem que uma hora ela pára, e cessa de vez. E disso eu não tenho medo, apenas receio. Sinto alegria. Sinto um descanso eterno. Sinto uma amalgama em mim. Algo me puxa sempre para o passado... Sinto medo do futuro.

Sinto, sinto e sinto...

Márcia Alcântara
Noite chuvosa e sem Luar de primavera 2010

29 de setembro de 2010

Diário 20?!

Sabe gosto muito de escrever. Às vezes imagino tantas coisas e tenho medo de que o papel acabe e eu não consiga dizer tudo. Penso muito, imagino que possa não existir palavras para dizer tudo.

Tenho medo de muitas coisas. De não conseguir escrever a cor que penso! Essas letras, essas palavras... tanto podem falar, mas também fazer calar... a quantidade não quer dizer qualidade, tenho raiva das regras impostas e colocadas para serem cumpridas, mas preciso mostrar serenidade...

Estou em desassossego! Tenho casa e comida, mas me sinto desabrigada! Tenho amor para dar e recebo o mesmo, de alguns... mas, sinto frio, e meu coração dói. Queria acreditar um tanto mais em mim, mas os dias passam tão rápido que quando imagino poder dar conta de minha existência, simplesmente, é hora de ir dormir... e a noite passa tão rápido que não consigo me dar conta dos sonhos... Uma vida sem sonhos... Isso para mim é horrível! É uma vida sem viver!

Me sinto cansada da cobrança da vida! O tempo todo e todo o tempo... até parece uma tempestade, mas não de verão, não, mas uma tempestade duradoura... De fato ainda tenho muito por conhecer, algumas coisas melhores dos que as que já conheço, outras nem tanto agradáveis assim, mas nem tudo tem o mesmo cheiro e nem o mesmo paladar, e se assim fosse, não alardeariam a angústia em mim....

Entre uma angústia e outra, um desassossego e outro vou me virando com a vida, na vida, escrevendo aqui e ali, tentando ser leve o quanto posso, bailando com as palavras, enquanto a música que toca não foi por mim escolhida! Continuo a escrever, e isso faz com que me sinta leve... entendo que é preciso tomar certo cuidado, pois em meu conhecimento pude perceber que os que escrevem com o suor do pensar não são bem vindos, ou outros fazem com que seus escritos não o sejam! Angustiante!

Mais e mais palavras ainda tenho por escrever, estão o tempo todo comigo... Me resta ainda tentar organizá-las...ou melhor organizá-las para que mesmo quando nossa existência é uma completa desorganização? Para que organização na escrita quando antes se desenhava com sangue? Para que tanta organização se o preconceito é latente na vida?

Preciso parar por aqui antes que minha leveza ganhe o ar...

Márcia Alcântara
Primavera de 2010

28 de setembro de 2010

Na profunda angústia...
Vivendo um dia de cada vez, mas imaginado como serão os outros...

Márcia Alcântara
Primavera de 2010.

24 de setembro de 2010

Diário19?!

Nem tudo mais são flores de primavera, mesmo por que elas andaram desabrochando no inverno, cinza e gelado. O que antes era acreditável, hoje tornou-se “duvidável”. Sabe, eu quero na verdade colocar do meu lado a felicidade, escrever do meu modo no meu mundo, mas ouvi dizer que somos egoístas por querer um mundo que não este!

Penso que se este mundo não é o meu não devo carregar comigo o peso do egoísmo! Apenas sou o que neste mundo não cabe, ou melhor dizendo, imagino que sou o que aqui não posso ser! Quero inventar palavras, novas maneiras de agir, novos comportamentos, mas nesse mundo é tudo muito padrão. Eu sou diferente!

A cada dia minhas incógnitas aumentam e não encontro nada conhecido que possa explicar ou me explicar. É por isso que julgo estar num lugar não meu. Quem sabe se até este corpo não seja o que imagino ser?

Sou agora e mais que nunca um ser entranho num lugar estranho. Talvez eu esteja colocando longe o belo que há em mim, e de binóculo consigo visualizar a beleza, a alegria, alias eu até as vejo, perfeitas, mas bem distante distante, apenas nas escritas, mas não sentidas... Palavras repetidas, jogadas ao longe... Ao vento!

Eu tento ser alguém mais contundente, mas não consigo. Faz parte da minha natureza ser assim, indeciso, a espera de algo que não chega... e quando chega eu não noto, não percebo com a clareza que deveria, com o calor que necessitaria. Desculpe, mas depois de você os dias mudaram e as noites não são, não não são mais as mesmas!

A água já não é mais tão sem gosto e sem cor assim. As palavras já não conseguem dizer o que antes conseguiam. O Tudo agora é nada e vago vazio de sentido para o tudo que era. Nossa! Sinto ao mesmo tempo em que não sinto nada. Mas será que o nada sentir já não é sentir? Perceba o que foi que você fez, minha cara! Parece que quando digo algo, a mente não absorve o que a voz quer dizer, culpa sua, só sua!

Anestesiada. Dormente. Angustiada. Apaixonada. Entediada. Estranha. Palavras chaves de como anda meu ser...

Márcia Alcântara
Primavera de 2010

14 de setembro de 2010

Diário 18?!

Coração

O coração bate sem parar... O dia vai a noite vem... Todos os dias iguais, o coração sempre a bater batidas repetidas. A vida segue rumo, umas ruas vão e vêm, outras apenas vão e outras somente vêm...

Tem horas que me canso disso tudo. Muitas vezes essas horas parecem durar apenas algumas horas mesmo, e algumas vezes, dias. Ainda não aconteceu de durar meses. O fato é que hoje sinto uma intensidade maior desse cansaço. Como se ele fosse se alongar por meses ou anos, quem sabe, décadas.

To enfadada do barulho, das luzes, da noite, da água, do fogo, do ar... Tudo parece que gira sem parar e não alcança verdade em nenhum lugar. E eu sinto que cansei de lutar. O chocolate me enjoou, o café na tem mais o mesmo paladar... e nem das coisas amargas pareço mais gostar... o jiló se tornou doce!

Queria uma vida mais colorida, menos cinza, menos amarronzada... Mas imagino que tudo colorido demais, meus olhos não iriam agüentar. Tanta coisa fluindo e crescendo eu ia ainda me cansar... e mesmo assim, cansei...vou dormir e assim quem sabe acordar desse sonho ruim. De tantas coisas a rodar sem parar, dos sabores... estou sem paladar, o coração bate tanto e já não consegue tempo para amar...

O coração bate sem parar e amanhã preciso acordar... é regra!
Odeio regras e padrões!

Márcia Alcântara
Inverno 2010

8 de setembro de 2010

Diário 17?!

Hoje me bateu uma tristeza interior. Talvez seja por que tenha ido embora o calor. E por outro lado acredito que esta justificativa seja um tanto quanto estúpida, por que quando há calor me coloco a reclamar.

O fato é que talvez não precise mudança de tempo ou de estação para que eu sinta o espírito frio. Talvez o simples fato de viver já seja a causa disso tudo. O simples fato de estar nesse mundo cheio e tão vazio seja o problema ou que me faça problemática. Cheio de angústias e vazios de soluções. Cheio de conceitos e vazios de atitudes.

Não preciso de análise para entender o quão estranha me sinto. Só o fato de enjoar diante de pessoas e situações já responde muita coisa. Os corações batem por baterem, ou batem por que a ciência disse que batem. Me sinto imunda por ter que acreditar nisso tudo! E não poder acreditar no que quero acreditar.

A ciência é a história das pessoas grandes que devem ter por verdadeira e ponto final. As fantasias são histórias de crianças, que um dia terão que acreditar nas histórias de gente grande, jogando no lixo toda a fantasia do passado. Pobres delas que cresceram vendo tudo descolorindo e ficando fatídico! Podres os adultos que assim fazem.

É isso que me enjoa e me enoja!

Márcia Alcântara
Inverno 2010

18 de agosto de 2010

Diário 16?!

Vida, Fatos e Existência

A vida. Tão simples dizer, apenas quatro letras parece compreender. Parece não necessitar de ajuda de argumentos para afirmar a vida. Viva, estou aqui presente controlando o tempo. Viva estou aqui presente, pois amanhã, ou do futuro eu não sei, e sou bem ignorante ao seu respeito, talvez tudo seja agora! Viva, e sem expectativas, o agora já passou. Mas o fato é que diante da vida não existe a possibilidade de comprovação do por que de tal. Para que a comprovação de tudo?

Agora. Controlo o tempo, mas não consigo controlar o sentimento que mora em mim. O sentimento de ontem não é o mesmo de hoje, e isso consegui apreender mais do que aprender ou ainda assumir. De fato os sentires do passado não são mais os mesmos de hoje e me lembro de ontem de forma diferente no momento de agora. Nem mais e nem menos, apenas diferente. Talvez eu já devesse ter visto antes que não era o que imaginei que fosse. Mas um simples abrir e fechar os olhos, naquele momento nada me revelou. Senti amor, ódio e agora apenas sinto, um sentir sem cor e nem sabor, não mais algo que beirava o desconcerto.

Fatos. Os fatos que existiram e continuam a existir em mim e só para mim, e a mim diz respeito. Os mesmos fatos que um dia foram para mim e para os outros, agora não são mais e simplesmente deixaram de ser no tempo deles, pois no meu, esses fatos ainda permanecem. Eu diria que eles, os fatos, existiram, mas como eu disse hoje é de um modo diferente, e talvez pudessem nunca ter ocorridos, assim como a existência do tempo alheio no meu tempo. Mas eu apenas apreendi sem aprender.

Permitir. Não mais permitirei a presença de tempo alheio no meu tempo de maneira tão aproximada. E deverá ser tudo muito simples, tão simples que será difícil admitir que assim será. Mas será como um dia após o outro, será tão básico como simplesmente fechar o os olhos e ao abrir tudo diferente estará.

Existência. No meu espaço estou livre. No meu tempo estou aqui. O tempo que mora e de certa maneira abriga meu ser diz respeito apenas a mim e mais ninguém. Sou para mim e em mim. Do futuro eu não quero saber, alias não lhe darei atenção afinal ele ainda não é existência. Nenhum outro lugar é melhor que o meu, na minha existência buscarei apenas o conforto em mim, no meu pensar.

Márcia Alcântara
Pensamentos soltos, Lua crescente, inverno 2010.

16 de agosto de 2010

Diario

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." Clarice Lispector

13 de agosto de 2010

Diário 15?!

***
Me disseram que se sinto deprimida
É por que possuo culpa.
- Culpa de que?
De não realizar meu desejo!
- Desejo de que?
Tenho certeza
Que ainda não descobri.
- Como descobrir?
Vivendo!
- Viver o que?
O Caos!
- Que Caos?
De um mundo não meu!
***

Quem sabe se quando descobrir o meu mundo, retirar dele o véu e não mais precisar esconder nada, talvez eu consiga ser...ser ideal para viver no mundo que não o meu. Não acho justo não poder viver na minha fantasia só por que a realidade esta ai. Grande coisa essa tal realidade! Realidade de gente triste, de gente solitária, de vidas mal vividas, de descredulos!
Não, eu realmente não posso e não quero realizar nada, deixarei tudo em suspenso. Assim como vivo pendurado nos limites do mundo, de um mundo não meu.

Márcia Alcântara
Inverno de 2010

10 de agosto de 2010

Diário 14?!

Primavera em pleno inverno

Tenho passado muito frio. O sol não aparece mais, a Lua então, quem me dera. Preciso entender que ainda é inverno, mas o tempo não passa, insiste em ficar parado fazendo com que eu fique quieta...

Desisti! De esperar a primavera. Preciso desabrochar meu ser agora, quero o colorido já, sentir o calor do Sol no meu corpo imediatamente, quero a luz da Lua agora. Não sou autoridade da natureza, isso é fato. Fato para os que são deste mundo, e como não sou, o Sol brilha forte, o Lua mesmo nova, distante e invisível, a mim se mostra, clara e formosa. Sou autoridade de mim e eu sou a natureza! Sem desafios, apenas sou!

Enchi a casa de flores. Assim como elas me sinto bem! Ah! Nossa! Bem de mais! Me sinto colorida, perfumada, onde passo deixo minha fragrância suave...Até o aroma da natureza, ou quem sabe meu próprio aroma me acompanha nesta jornada de descobertas.

Descobri que o tempo sou eu! Eu sou a minha própria estação! E a minha temporada de agora é de flores! De pétalas! De alegria! O tempo esta em mim e estou para ele...e eu sou quem diz como deve ser.

Quem sabe se as pétalas cairão na primavera ou no verão, sou eu e o tempo, meu parceiro adorável no momento de agora, quem decidirá!

Por hora vencendo desafios...

Márcia Alcântara
Primavera própria, Inverno de 2010

3 de agosto de 2010

Diário?! 13

Fico imaginado se as letras têm algum poder. Dizem que o verbo tem, mas eu ainda não consegui saber ao certo.

A única coisa que parece me trazer um pouco de alegria poderia ser externar o que sinto, mas não tenho tido sucesso. Fico entristecida na mesma medida que me sinto alegre, um descompasso total. E não sei a causa de tudo isso.

Minha vontade é a de ser bem letrada a ponto de ser compreendida através da escrita, meu ponto de escape, mas pude notar durante este tempo que passou que nada tem haver ser “bem letrada”, oras isso nada quer dizer quando nada se sente, e eu, eu sinto muito á ponto de andar sentida o tempo todo. Além de ser também incompreendida.

E isso coloca tudo em cheque, e mate eu diria. Mata todas as minhas expectativas das quais pensei por muito tempo. Esperei por tanto tempo saber coisas das quais não são necessárias. Juntei tantos conhecimentos... Sempre imaginei estar no meio da escuridão, mas não eu estava presa em uma clareira e ela é culpada por eu não enxergar a vida como ela é, ou quem sabe nem seja.

Vivia eu em uma fantasia extraordinária e agora a vida real me prensa. Essa realidade não é a que sempre imaginei. E então cai. Mas levantei por que a vida me empurrou, os olhos continuaram teimando em abrir e o coração, que dizem ser vermelho, continuou a bater.

Estou agora, aqui engasgada de mim mesmo, quase faltando a respiração, respiração essa que teima em vir aos poucos e me deixa na angústia por não cessar de vez.

Márcia Alcântara
Inverno de 2010

22 de julho de 2010

Diário12?!

Eu no divã?!
Recebi sim alguns convites para nele me deitar, mas não sei, e então resolvi apenas sentar-me na poltrona ao lado. O divã me parecia apenas um item de decoração de uma sala tanto clara como escura, digamos que a meia luz.

Educada como sempre fui respondia as questões de forma prática e simples, sem muito lenga lenga, mas não fui bem escutada, digamos assim. Claro que com muita educação fui recebida, em momentos eu até quis falar, e assim fiz, falei... o fato é que foi chegado o momento onde eu não mais queria ouvir, mas por teima, assim não o fiz.

Continuei a sentar-me na poltrona a cada sete dias. Falei, ouvi, gostei e não gostei. Eu saia da sala tonta, e comecei a perceber que estava tonta de mim mesmo. E comigo convivo a mais de três décadas, posso me conhecer melhor do que qualquer outra pessoa que conheci por relatos daqueles que não sou eu.

E isso começou a me consumir...uma dúvida atrás de outra. Até o momento em que eu não agüentei mais quem falasse a mim mesmo quem eu era e o que fazia, como agia e como deixa ser a vida. É fato que sou eu quem deve saber estes detalhes, alguns sórdidos outros menos. E tem mais uma coisa se a pessoa sabe tão bem como fazer ou desfazer, será que é aquela vida que escolheu para ela? Será que simplesmente “orientar”, “ouvir” alguém já é o prazer que a vida propõe? Eu não sei.

Deixei de lado o convite a mim feito. E por duas vezes a teimosia conseguiu levar-me onde não há cabimento ir. Agora to seguindo em frente meu caminho. Confio em mim na mesma medida que desconfio. Não acredito em nada e nem em ninguém na mesma medida que acredito... Ainda to seguindo desconfiando de todos e de tudo, isso incluindo a mim mesma. Inclusive as coisas que escrevo.

Márcia Alcântara
Inverno de 2010

15 de julho de 2010

Diário 11?!

É engraçado o que sinto quando vejo as pessoas, todas iguais, todas diferentes... Assim como todos os dias, cada dia cabendo em vinte e quatro horas, e cada dia diferente. Fico pensando como pode haver tanta igualdade e tanta diferença em cada pessoa, em cada dia.

Olho pela janela, lá está o sol ou a chuva... Olho pela janela e lá estão os vizinhos. E estou cá eu olhando tudo o que não é da minha conta! Imagino se o que faço e o que quero é errado, já que puseram títulos nas coisas que fazemos. Certo, errado, proibido, perigoso... todas as ações e vontades possuem um título.

Mas tenho que para mim as pessoas deveriam ser mais livres, mais a vontade de si. Aqui, nesse mundo, tudo esta estranho demais. Querem e cobram por um respeito que não possuem! Ninguém tem mais individualidade, é tudo muito igual, e na verdade até parecem contradições em carne e osso.

Suportar!
Assim estou sendo treinada para continuar aqui. Espero não virar um robô, risos... só rindo para descontrair. Vou continuar aqui sim, sou uma bailarina a bailar num palco, onde muito em breve, minha turnê mudará de lugar... Tenho comigo uma única certeza: aqui não é o meu lugar, aqui não é o meu mundo... Talvez eu esteja enganada, mas acho improvável demais.

Vou, então, sobrevivendo as tempestades de mim mesmo.

Márcia Alcântara
Inverno de 2010

8 de julho de 2010

Diario10?!

Acordei hoje de manhã, assim como todos os dias e como todos fazem, abri os olhos. A claridade do sol já invadia a janela, assim como faz na janela de todos. Até aqui nada de novo ou espetacular.

Assim como todo e qualquer dia, ele passou... e agora estou imaginando como foi rápido o entardecer e conseqüentemente a chegada da noite...

Pensando estou nos mínimos detalhes que contém o mundo, se as formigas foram se deitar ou se estão a correr dos seus predadores, os tamanduás... ah eu não sei o que me leva a pensar tudo isso, ou nisso, mas já adianto que essa vida é cheia de coisas estranhas, e tudo, tudo é estranho demais para mim...

Márcia Alcântara
Inverno de 2010, quinze dias sem chuva, é o que noticiaram hoje.

7 de julho de 2010

Diário 9?!

Tudo eu já tentei para melhorar a mim, mas sou obrigada a confessar que nada adiantou. Vou seguindo adiante, empurrada pela vida. Calor, eu sinto apenas o do sangue que corre nas veias. Frio, eu sinto quando percebo que estou longe de mim mesma, e isso, ocorre sempre.
Nem mesmo o sol consegue a feitura de fazer-me sorrir. Dizem que o amarelo traz alegria, mas só vejo e sinto o lilás. A lua esta semana se escondeu. Se pudesse faria como ela, mas não me foi permitido se esconder, preciso estar sempre presente, e também não me foi dado o direito de cansar-me.

Energias? As minhas? Acabaram-se. Eu já disse e gritei aos quatro cantos do mundo, mas nada e nem ninguém me ouviu, quem sabe se por que o mundo é redondo e não possui cantos. Palavras? As minhas? Elas estão mudas. Meu mundo? Sumiu? Vivo em um mundo que não me pertence. E, nesse mundo, não meu, não consigo me encontrar e a minha carga de energia esgotou-se.

Quero dormir. Ficar só. Mas eu sou companhia de mim mesmo e estou farta de mim mesma. A solidão que antes era meu remédio neste mundo, virou uma energia perigosa, ruim. Sinto frio e parece que estou longe, mas estou aqui, sendo empurrada, escutando gritos quando os meus, ninguém ouve.

Vou seguindo. Discutindo com meu eu quando somos positivos e quando somos negativos. Aliás, essa me parece uma discussão amena, afinal são todos muitos e solitários, e nesse mundo os não-eus parecem viverem de si próprios, deixando de lado todos os outros não-eus, deixando de lado todas as outras energias...cada um é si mesmo, em branco e sem energia. Esse mundo não quero para mim.

Márcia Alcântara
Inverno 2010

26 de junho de 2010

Diário 8?!

É chegado o inverno. A lua brilha no céu e os lobos querem uivar. Eu aqui admirando tudo fico parada no ar. Meu coração continua batendo, batendo, batendo. Por várias vezes sinto meus ouvidos silenciarem, meus pensamentos pararem. O gosto do chocolate meio amargo torna-se mais amargo que o normal.

Procuro explicação. Mas não consigo encontrar. Essa vida, nesse mundo, ta muito complicada. Estou cansada de viver e ter que procurar provas e explicações. Quero minha vida limpa. quero poder uivar e não explicar nada para ninguém, nem mesmo para mim. Quero agir sem esse pudor horrendo que colocaram como couraça no mundo!

Cansada. Mas é chegado o inverno. Não posso fazer como fazem alguns animais e fugir para procurar um lugar quente ao sol. Vou ter que me acomodar por aqui mesmo, ficando gélida ao sol. E a luz por vezes ainda me incomoda pois sinto frio e quero a escuridão para descansar.

Quem sabe quando do meu descanso voltar, voltarei também a admirar a luz. Por hora, me contento com a lua cheia brilhando no céu negro, a tentativa frustrada de uivar, o vento frio a tocar a face, os pensamentos feito turbilhão, a audição como um caleidoscópio e o chocolate meio amargo que minha saliva derrete!

Márcia Alcântara
Inverno 2010

13 de junho de 2010

Diário 7?!

É no outono que as folhas caem. De certa maneira, faço parte da natureza, e eu não, não posso cair. Não posso me dar ao luxo de aquietar-me, ficar só ou quem sabe mesmo despencar assim como fazem as folhas.

Preciso estar, seja em qual época for, de bem com vida, com as folhas belas e sempre saudáveis. Preciso estar sempre de plantão para ajudar um e outro. Preciso estar sempre quente para poder dar calor. Também preciso me aquecer. Preciso estar sempre amável e dar aquém eu sinto que precisa, um carinho. Também preciso dele, do carinho e também da reciprocidade dos não-eu. Preciso estar sempre sensata, a fim de ajudar aos não-eu a tomarem suas decisões. Também preciso delas, das decisões.

Bom, as pessoas, em sua maioria, de mim se diferem. É um fato marcante que tenho para mim: as pessoas, todas, não são como eu, pois eu sinto que sou única. Na verdade estou com medo de não ser desse planeta, ou quem sabe eu tenho muitos sentires de uma vida passada onde todos viviam em harmonia.

O fato é que sinto-me longe de uma harmonia. Nada mais sustenta a vontade do meu ser de entender e desentender tudo e todos. É uma vontade que anda me fazendo bem, mas que de repente cai, assim como fazem as folhas no outono.

A única coisa que sinto, é que com o passar do que nomearam de tempo, esta passando e se esgotando. E tudo esta descolorindo de forma muito rápida. E os não-eu parecem não sentir isso. Talvez eu sofra de algum mau não descoberto aqui nesse mundo. Mas não sei qual é o meu mundo. Em resumo, o que sinto na verdade é uma perdição, e não consigo encontra-me de maneira alguma, será que a minha essência se perdeu em meio as folhas de um outono qualquer?

Márcia Alcântara
Outono de 2010

26 de maio de 2010

Diario?! 6

Hoje quando abri os olhos de manhã me senti um tanto estranha. Sentia vontade de fazer algo. O que? Eu não conseguia saber.

Sentia que tinha algo por acontecer. O que? eu não conseguia saber.
Mas levantei assim como faço todos os dias quando o sol desponta seus raios quentes. Mas não sei por que o sol não parecia tão quente assim. Talvez fosse o outono.

Eu sentia vontade e tudo o que eu fazia não me saciava. O cheiro do café quente da manhã parecia não ser o mesmo. O chocolate em barra não tinha o mesmo gosto de sempre. Eu sentia vontade, vontade...e nada saciava-me. Os afazeres de todos os dias eu estava á fazer. Os mesmos dizeres, estava a dizer, as mesmas tarefas a serem cumpridas, mas nada da tal vontade desaparecer. Meditei, ouvi música, tomei meu banho, quente... Preparei com amor a minha comida preferida... Fiz tudo como sempre fiz.

A vontade dominava todos os meus momentos. Tudo era igual a todos os dias.
O sol começava a dar sinais de cansaço, parecia querer deitar, mas ainda era cedo. De fato senti, assim como o sol, cansada e com vontade de me cobrir, o dia não estava quente, mas estava ainda claro.

E deitada e aquecida me coloquei a pensar como tudo flui. Pude entender que cada dia é como todos os outros, as mudanças são mínimas, assim como imagino ser a vida, pois qualquer coisa a tira de nossas mãos. Deitada e aquecida ainda sentia vontade e um pressentimento de que algo vinha a acontecer.

Não me lembro de muita coisa que tenha acontecido depois, quando acordei a lua aparecia entre as nuvens, assim como nos filmes de terror, entre nuvens negras... garoava intensamente, e fazia frio. A vontade não consegui até agora saber o que era, ou melhor, dizendo o que é, pois essa vontade ainda me leva a diante, sinto vontade de descobrir vontade de que meu ser persegue. Agora, o que eu pressentia, o algo que parecia vir a acontecer talvez seja a chuva que caia fina no iniciar da noite...

Nem sempre sabemos tudo e tudo é penosamente por nós esperado. Um beijo, um elogio, uma simples facada da realidade, o amor do próximo, o desejo incontrolável... tudo, tudo é vontade do ser, tudo é pressentimento. E tudo isso esta penoso demais ao meu ser que descobriu que tudo flui. Tudo anda fluindo demais, a tal ponto de eu, de meu simples ser eu não mais conseguir entender.

Antes, quando eu entendia bem pouco sobre todas as coisas eu parecia ser mais feliz. Parecia ser mais tranqüila, ser mais bela...

Mas descobri que as coisas possuem uma fluidez infinita, e somos envolvidos nesse fluir...fluindo com ele acabamos descobrindo coisas, descobrindo verdades e descobrindo mentiras...descobri o verdadeiro sentido do descobrir...e a revelação tormou-se algo que não posso suportar.

Neste momento me entendo como ser, e como ser tudo me parece muito estranho...eu penso que na verdade tenho sentido medo de todas as coisas e de todos os outros seres.

O fato é que tudo isso que eu sinto, que minhas vontades, (in) controláveis estão diretamente ligadas ao outro, digo ao outro ser, que não o meu.
Eu não consigo nem mesmo afirmar que eu sou, o que meu ser sente, mas sei que sente e sente pelo o outro. Gostaria na verdade de conseguir saber mais sobre o outro, mas isso não me é permitido.

O outro veste uma couraça, se camufla, e tudo a meu ver é feito com tanta descrição, uma descrição que não consigo. Tanto é que agora, neste único momento estou aqui, estupidamente me confessando,dizendo o que na verdade deveria fica trancado em mim.
Não entendo a mim mesmo, mas entendo o outro e suas vontades... Será que os outros também não seriam também a mim?

To confusa e angustiada, não sei mais o que quero,não identifico mais minhas vontades, só sei que lá fora a garoa fina encobre a luz da lua, assim como a vida faz com meu ser, ou que chamo de ser, e assim tudo vai fluindo e crescendo...
Márcia Alcântara
outono de 2010.

21 de maio de 2010

Diário? 5

Faz frio. Na noite escura, a Lua dá sua primeira tentativa de encher-se de luz. Também sinto frio. Me sinto entediada e nada, nada me faz sorrir, e muito menos, sentir-me cheia de luz.

Hoje acordei com vontade de viajar... pelo céu, pelo mar...esquecer das coisas da realidade. Mas tive que perceber um fato, só posso me conduzir as viagens porque a realidade existe.

É triste sentir que não posso fugir da realidade, e que é somente por ela que posso ir onde não existe, onde não posso chegar. Gostaria de respirar ar lilás, amar quem não me ama, sentir-me segura nas mãos de outrem, mas tenho que ser refém da realidade.

A realidade aprisiona mesmo quando estou em outra dimensão. É para ela que tenho que retornar das belas viagens que faço. Que saco! O arco-íris perdeu a cor. A vida é para ser vivida como os outros querem e assim ocorre com todos, ou ao menos no meu pensar assim ocorre.

Queria poder nadar num mar de flores... queria ser autêntica... mas onde meu ser vive, onde colocaram ele para viver, isso não é possível. Mas, eu tento viver dentro do que é possível e fazer o impossível... confusa! Assim faço da vida.

Na vida confusa, na ligação do meu ser com o nada me realizo. Sou feliz dentro das impossibilidades do meu interior. Exteriorizo as palavras para que elas não apodreçam sem respirar o ar lilás... e seria um egoísmo de minha parte não permitir á elas esse prazer...

Vou seguindo, e chego aqui, onde faz frio, onde só a Lua parece ter o direito de sorrir...

Márcia Alcântara
Outono 2010.

14 de maio de 2010

Diário?! 4

É muito comum que nos sintamos esgotados e até mesmo perdidos... O que vejo e sinto é que não é comum ficar assim por tanto tempo. Estou me sentindo assim há quase uma década. Inconstante, eu diria ser esta palavra minha companhia de agora. O que me lembro é do agora, o de antes só recordo-me. Se não vê diferença entre lembrar e recordar, nada posso fazer, pois para mim há uma diferença, gritante! O recordo-me anda longe e o lembrar esta bem aqui!

Quando mais eu tento me encontrar, mais me perco... e assim sigo a tempos. Não sei se quero que alguém me encontre. Desde que me conheço por gente assim sou, perdida, inconstante.

Amo na mesma proporção que odeio, fico alegre na mesma proporção que me entristeço, e como me entristeço! O fato é que já não sei mais o que sinto de tantos sentires que estou sentindo. Parece tudo tão complicado de externar, imagina como esta isso tudo dentro de mim.

Dentro de mim cada coisa que se passa parece problema. Ouvi ontem muitas coisas que dos meus olhos lagrimas escorreram. Que bobagem! é o que a razão me diz. Mas neste momento intrínseco de mim, dominada pela emoção estou. Aliás, faz tempo que ela não descola do meu ser. Perdida e sem vontade alguma.

Certo autor disse que “viver é muito perigoso” acrescento ao seu dito que pensar é muito perigoso, também. Porém não sei se existe vida sem pensamento e assim sendo o mundo é perigoso, o meu mundo então nem se fala.

Acho que é melhor eu ir tirar um cochilo, quem sabe se quando eu acordar não me encontrarei melhor que agora, ou nem mais me encontrarei. Logo o por do sol virá, ah e como é belo o por do sol do outono. Ah! Me esqueci hoje o sol não apareceu. Mas eu esperarei. Nada como o tempo para curar...curar o que? eu não sei. Nem mesmo fazer pedidos para as Deusas eu posso, pois na verdade não sei o que me dói.

Márcia Alcântara
outono de 2010

4 de maio de 2010

Diário? 3

Hoje é mais um dia que preciso, ao menos tentar, escapar de mim. Há discussões inesquecíveis acontecidas. Os cinco minutos são perigosos. Machucam e dilaceram os seres, e tudo isso pode ser incurável.

É muito triste quando não posso ser entendida. Nem por mim, nem pelos que não sou eu. E hoje, assim estou, triste e completamente desentendida de mim.

A verdade deve sempre ser dita. Pois quando internada não surte efeito algum.
A mentira deve ser externada para não causar complicações internas, graves. Agora, afetada pela emoção eu penso que não devemos externar nada. Tudo internado em mim é melhor, assim não me entristeço com o outros, e ai tudo pode ficar bem.

Quanto a mim, eu que fique triste para comigo mesmo. E como maquiagem eu fico bem, bela... quem sabe os perigosos cinco minutos façam com que minha mente esqueça tudo, penso que isso é uma missão um tanto difícil.

Estou quase convencida de que tanto faz como tanto fez o que se não se diz, pois o que se disse, fez mal, muito mal...
Márcia Alcântara
Manhã outonizada 2010.

23 de abril de 2010

Diário? 2

É o momento de escapar. Não, eu não agüento mais estar aqui comigo. O fato é que aonde vou me vejo, minha essência parece permanecer em todos os lugares, mesmo sem que eu lhe de permissão. Escuto meu choro, e eu não quero mais ouvir,estou farta dele.

Hoje a vida parece pesada. O sol não aparece e São Jorge parece ter ido para sua festa e abandonou na terra seus guerreiros. Não ria de mim, estou sóbria.
Estou em constante batalha, mas essa, de hoje, é comigo mesma. Não sei quem sou e tenho que dar conta do que não sei fazer, do que não sei se esta certo ou não. De fato eu penso em sucumbir daqui.
Espero que estas escritas aliviem a minha dor e a minha falta de encontrar os pôqueres das coisas que dizem que são e que ainda não provaram para mim serem.
Cansei, assim como o sol que hoje nem se quer deu suas caras e que apenas aquece, prefiro que venha o frio e a chuva. Prefiro me esconder já que escapar não adianta mais.
Que em meu esconderijo haja pelo menos uma musica e ar lilás, é o que preciso apenas, nenhum toque, nenhuma voz.. Acordada no escuro e só. Espero que nessa quietude que quero, a verdade não fique a gritar me assustando. Meu lado de cigana hoje acordou tênue, e sinto medo. As cartas e as pedras nada dizem.

Também não quero ouvi-las.

Márcia Alcântara
Outono de 2010

25 de março de 2010

Diário?

Hoje não acordei muito bem. Já é de praxe que isso aconteça, mas hoje com um grau a mais.

Tive pesadelos durante a noite. Avião caindo e muito fogo. Fui dormir em um lugar e quando acordei estava em outro. Eu sei que fui para esse outro, mas tinha certeza de que eu tinha voltado ao primeiro.

Uma vez me disseram que meus pesadelos com queda de avião é confusão nos meus pensamentos. Indo de encontro a essa tese, será o fogo ação demais ou de menos?

Sonhei com corpos carbonizados, correria e confusão. Estou com medo. E sei que isso me atrapalha ainda mais. Tenho medo e medo tenho.

Acordei privada de meu livre locomover. Estou me sentindo amarrada, minha cabeça pesa e não tenho se quer uma barata para relatar os fatos, também quem disse que ela ia querer ouvir. Talvez se eu a devorasse quebraria minha rotina, afinal nem comer tenho vontade, a comida não tem cheiro e nem gosto e quem sabe uma baratinha, hum, uma coisinha diferente me alimentaria, risos.

Enfim...que aviões não caiam, que ninguém morra...se tiver que acontecer que seja comigo.

Isso tudo não é frescura, se não sentir nada parecido um dia, simplesmente agradeça, mas se você se sentir assim um dia vai se lembrar de mim e ver o quanto fazem pré-conceito dos sentires alheio.

Por isso escrevo. Escapo de mim. Me sinto melhor assim.

Márcia Alcântara

Manhã de Outono de 2010

11 de fevereiro de 2010

E " a Vida foi feita para ser..."

Hoje resolvi escrever por que não consegui mais deixar tudo dentro de mim. Precisava de certa maneira, escapar de mim, jogar aos sete ventos palavras que estavam em mim, presas.

Ontem me incomodei quando deixaram em meu mural uma certa frase: “ a vida foi feita para ser vivida e não para ser compreendida”. Isso me perturbou, profundamente. Não há como viver sem tentar compreender o que está ao meu redor, ou seja, a dita Vida.

Parei para pensar e tentar compreender o porquê me coloco sempre a tentar entender á tudo e a todos se nem mesmo eu sei fazer isso, fazer isso no sentido que me diz respeito, entender a mim mesma.

Estou exausta hoje e desde que comecei a me compreender como um “quase ser”, inconstante demais é que o sou. E por que coube a mim ser? Quem disse que eu queria ser? Por Zeus! Quase sou!

Pensamentos diferentes, ações completamente avessas, cheiros diferentes, paladares diversos, coisas distantes... assim é todos os seres, criaturas, seres humanos...

O fato é que nada, nada mais me chama tanta atenção, a não ser, é claro, tentar compreender o porquê de tantas coisas distintas em pessoas praticamente iguais. Mas o praticamente da frase já diz tudo: não são iguais. E mesmo assim, numa crise terrível de teimosia ainda procuro tentar entender mais os outros do que a mim mesma...

Entender o que não pode ser entendido, o que não pode ser compreendido...eu, os outros, a vida.


Márcia Alcântara
Verão de 2010

29 de janeiro de 2010

As Pessoas...

Há muito não conseguia de mim escapar. Não conseguia escrever uma linha se quer. E quanto mais o tempo passava, mais e mais angustiada eu ficava.

Mas hoje recebi um escrito de uma pessoa, muito especial, do qual a chamo de “quase eu”, e somente nós entendemos o porquê disso ou daquilo.

O escrito relatava lembranças, mais especificamente, como ela mesma disse em seu escrito as da infância. Lembranças marcantes para muitos, mas, que para outros nem ao menos são lembradas. E isso me fez escapar, ou ao menos, tentar.

Parei para imaginar o que as pessoas, os humanos, tem feito de suas vidas. Não por que cargas d’água tenho um nome que me remete a outro planeta e o apelido que eu mesma me dei, para um outro lugar que não a Terra. As coisas que “curto” me levam para longe... Longe de aqui.

É confuso, porém verdadeiro. As pessoas agem de forma estranha. Antigamente eu percebia uma preocupação maior com os próximos, ou seja, os outros da mesma espécie e até mesmo das outras. Mas hoje o que posso sentir é uma ignorância para com o outro. Se preocupam apenas com o próprio eixo, e mesmo assim andam com os eixos tortos e espiralados. Não cuidam do que com tempo adquiriram: respeito e amor. Não querem mais saber o que fazem de mal. Visam seus próprios bens... e muitas vezes ainda vislumbram os bens alheios com olhos de Rubi. Esqueceram do Diamante, esqueceram que o coração poderia ser de Quartzo Rosa.

Cheguei a conclusão de que isso contamina, pois eu mesma já me preocupei mais com os outros. Preciso urgente de um banho com Sal Pedra e Ametista,mesmo que venha por ai a Lua Cheia. Não pense que me sinto egoísta agora, não é isso, mas percebo que não há reciprocidade no carinho, no amor oferecido. Isso cansa, desgasta o ser, mesmo que esse não seja desse planeta, assim como eu.

Sou de Marte, sou da Lua, visito Vênus e aqui na Terra procuro viver numa redoma de vidro, me protejo de mim, pois adquiri, aqui neste pedaço em que vivo, uma coisa que escuto dizerem ser um tal “pé atrás” com tudo e com todos, até mesmo os de outras espécies,pois estes não sei mais quando vão morder, adquiriram o hábito de morderem por morder, e não mais para se proteger. Não gosto de viver assim, mas ao vir morar aqui perdi a oportunidade de voltar de onde vim quando quiser, me vislumbrei com brilho azul da água e agora só vou se for chamada, espero que este chamado não demore. O ar de minha redoma esta se acabando, a água que vislumbrei não é mais azul e Terra que quis tanto, agora desliza e mata.

Márcia Alcântara
Verão Chuvoso de 2009