29 de novembro de 2010

Diário 23?!

Pensei que o tédio e a raiva fossem apenas passageiros, e que estes desembarcariam da plataforma de meu ser, numa estação próxima. Mas não. Tornaram-se viajantes tranqüilos e fizeram de mim morada. Passou o inverno, e agora na primavera por aqui continuam.

Não são bem vindos. Na vida movimentada, imaginei que não haveria espaço para mais estes dois. Mas estes, na bagagem ainda trouxeram consigo o ciúme. Que agora, meu ser nem mesmo consegue respirar. Desde que o ar lilás se foi, nada mais tem sabor. O prazer virou algo banal e a vida, carregada de uma energia do qual o universo ainda não conseguiu me passar os componentes, perdeu o sentido. O amor não se mostra, e a Lua, ah Lua, não tem mais o mesmo brilho de antes.

Mas, quanto a mim, mesmo assim escrevo, por mais que não consiga compreender a vida ou a mim, externar me palavras ainda é o melhor remédio para minha cura.
Márcia Alcântara
Primavera 2010

11 de novembro de 2010

Desabafo mal feito

Sempre que me coloco a pensar, luxo este que não consigo me livrar, imagino as infinitas possibilidades que há ao redor da vida. E não é incomum perceber que não se desfruta dessas possibilidades.

Há sempre uma visão deturpada da vida e das pessoas que nelas estão. Há nas pessoas uma má vontade em entender o próximo, há uma má vontade de se entender os porquês da vida. Dizem que colhemos o que plantamos. Mas isso não é verdade, pois, mesmo que se plante o bom sentimento e a admiração pelas pessoas, o respeito a elas, não há mais como colher isso de volta. É como se os passarinhos tivessem comido estas sementes, mas eles não são maus, apenas estão garantindo seu sustento. Talvez o mesmo esteja fazendo aquele que não sabe ser recíproco com o que recebe.

Mas meu sustento depende do amor que recebo, e é por isso que vivo a cair com muita freqüência. Não enxergo mais a possibilidades de novos caminhos. Não enxergo mais o bem querer das pessoas, e mesmo que ao meu lado, parecem vestir uma fantasia, pois não são eles que estão ali. É como no dia das bruxas que, na simbologia fantasiam-se e maquiam-se para se esconder dos visitantes do submundo. Não sei ao certo o porque fazem, mas fazem e esta tão nítido como as flores da primavera ou as quaresmeiras que florescem nas montanhas.


Mas é fato que ao perceber todas estas pessoas camufladas em seus instintos, o máximo que se pode fazer é silenciar e não dividir mais as alegrias. É melhor permanecer no silêncio para que não seja entendido de forma errônea. E assim sendo a alegria e a vontade de dividir, fica longínqua e mais próximo é apenas um mau sentir, que não deixa de ser uma das infinitas possibilidades da vida. Não tente entender esses sentimentos, pois somente ao ser que sente, cabe saber o que é, além do mais, não desejo para ninguém o desfrutar dessa possibilidade. A possibilidade de desistência das pessoas a quem um dia muito se amou.

Márcia Alcântara
Manhã chuvosa de primavera 2010.