9 de fevereiro de 2013

O desabafo literário do ‘eu’



Não gosto muito de citar o ‘eu’, mas, neste ponto, que desejo enfocar, é necessário afirmar em timbre forte o ‘eu’. 

Eu estive pensando hoje sobre as escritas, os modos de escrever e pontuação. Sim tudo muito necessário, só que não! Não porque os possíveis leitores não sabem ao certo como tudo foi pensado para ser escrito. Oras, não sabem. Se pudéssemos, ou se eu pudesse ler da maneira como pensei antes, que alguém lesse seria muito, muito atraente. Não se tratando da palavra  no seu estado sensual, mas da maneira como deveria sentida!

É claro que nem todo mundo vá sentir o que senti. É! Seria intensamente difícil. Lá no fundo seria tão bom, quase que excitante, saber que alguém leu e sentiu o mesmo, mas há probabilidades negativas.

Sempre que eu escrevo ouço, lá no fundo d’alma, palavras que não existem! É não existem. E é por isso, por isso e só por isso que muitas vezes deixo lado toda situação sentida, mas nunca escrita. É! Não dá para escrever diante de cobranças das quais não posso pagar. Mas, me sinto livre, jogada no ar lilás, refletida na luz do luar, quando esse há,  quando posso colocar em letras alguma coisa que sinto.

É eu escrevo o que sinto. Não sigo regras e nem faço literatura. Sofro. Choro. Me sinto deixada de lado, mas logo deixo de lado todo esse desprezo.  E aprendo nunca, nunca desprezar a mim.  Faço valer o que reflito. Vale o que sinto. 

Márcia Alcântara
Verão chuvoso, frio, 2013.

7 de fevereiro de 2013

Caim matou Abel, mas quem morreu mesmo foi Caim




Digamos que Caim, realmente,  tenha matado Abel, simplesmente porque o outro tenha se destacado, enquanto o outro foi um simples lavrador. Não sei quem matou quem. Acredito que a culpa carregada dentro do ser Caim possa ser mais mortal que a própria morte de Abel.  Mesmo porque os lavradores são tão importantes quanto os executivos. É uma cadeia. Caim pensou tudo errado. Pensou ser menos, e quis, apenas quis, ser mais.

Como podemos agir  assim, sendo todos do mesmo sangue, sim! somos todos do mesmo sangue. Traídos pelas serpentes? Nunca. Somos responsáveis por nossas escolhas. Escolheu desacreditar, deixe de lado, mas não mate, ou carregará a culpa, sete, sim sete vezes!  é o que diz lá no livro. Se sente traído pelas serpentes rastejantes? Há boatos de que elas também andavam. Mas foram castigadas e condenadas a rastejar sobre o próprio ventre, ventre esse que dê ou não outros dos seus. Há provas? De nada.

Quem sabe um dia partículas soltas possam dar explicações do que existe só que não. É sempre bom viajar nas estórias que se e conta que os livros relatam. Dar um ar de ficção ou não. Acreditar serem verídicas ou não.  Somos, todos, autores, lavradores, executivos, sanguinários (num sentido figurado).

Ficamos soltos, jogados no mundo. Alguns rastejam, condenados pelos que brincam de Deuses, mas é só no interior de si, porque  no fim não acreditamos em nada e todos, todos, do mesmo sangue, ainda andam. Outros apenas vivem suas vidas e os que se incomodam, já disse nas linhas acima, brincam de Deuses e desenham chifres e pintam de vermelho ou arrancam pernas e pintam de verde, seus “incomodadores*”. 

Das letras que li em ‘ns’ lugares esse pensamento soltou-se.
Cada qual monta sua estória.

*adoro uma palavra inventada. Dá realidade onde você pensa que há.

Márcia Alcântara
Verão frio de 2013