24 de janeiro de 2013

Do chamado



Hoje foi uma manhã atípica. Estou de férias, próximo a reserva da Juréia, sempre venho á praia, mas hoje teve um gosto especial.
Escalei as pedras, olhei o mar, senti calor nos pés, havia muito que não sentia tantas sensações. Senti o cheiro do mar, a brisa do vento, o calor do Sol. Senti o sabor preso nas pedras, eu não queria, mas meu corpo pediu, cheirei e coloquei a boca na pedra, eu poderia não ter outra oportunidade. O gosto é algo tranquilo por assim dizer, talvez um pouco seco.  Também tateei  e percebi as imperfeições perfeitas das pedras. Escutei as ondas chocarem-se com o paredão, sim escutei as águas chorarem e rirem ao mesmo tempo. Os paredões  permaneciam imóveis e se refrescavam quietamente.  
Estava com a máquina fotográfica, ou melhor, as duas, a máquina digital e o meu coração, que é melhor também que seja uma máquina,  e este  registrava com mais fidelidade todos os segundos. Eu senti medo! Muito! Não de perder a máquina, mas de que nunca mais eu pudesse estar ali e sentir  tudo o que estava sentindo, ou  que ali, ou que aquele momento não existisse. Ando tendo uns medos estranhos, tenho medo de que as coisas que eu goste muito não existam e que os momentos vividos sejam apenas fruto da minha imaginação.
Fui de volta a areia, estava quente e Sol parecia atravessar a pele com raios calientes fortíssimos. Escutei um chamado, eu ouvia meu nome perfeitamente, era uma voz doce e encantadora. Mas eu não via ninguém.
 Sentei-me na areia olhei maravilhada a paisagem, que ao longe mostrava-me duas ilhas, uma maior, outra menor... o chamado continuava e quando percebi o que me chamava, não fiquei em choque, e atendi prontamente o chamado, eram as ondas que ao tocarem já calmas a areia, sussurravam meu nome...
Levantei-me e fui ao encontro do mar. Fazia muitos anos que eu não ia tão fundo ao encontro das ondas, e a muito não sentia  a suavidade e a agressividade das ondas baterem no meu corpo. Uma dualidade de sentimentos, uma dualidade de entendimentos. Fiquei por ali algum tempo, exatamente não sei, mas o tanto necessário para que a água, salgada e sincera,  fizesse de mim, naquele instante,  um ser mais leve...
Márcia Alcântara
Verão 2013

23 de janeiro de 2013

‘Sepiedade’ (da luz sépia)



Já fazia algum tempo que não escrevia assim, como gosto, pessoal  e  intransferível.  Inventando novas palavras.  É que o meio em qual ando, não é bem vista tal tipo de escrita, é necessário manter certo padrão. Sai de um canto, um tanto filósofico já por este motivo, acreditei que a literatura me permitia um pouco mais de sal, mas me enganei.  Não! Não sou falsa, mas neste meio, aprendi que tem coisas que não são bem vistas logo de cara, então faço ficção e deixo para mais tarde a não ficção.

Mas preciso sair disso um pouco, preciso falar da realidade angustiante...  Pareço grávida, ando enjoada e enojada. Antes eu estivesse. Não! Não estou. Estou cansada e fadigada da humanidade falida da qual convivo. Pensam todos que a vida é fácil, não! Não é! Sonhos impossíveis são possíveis! E nunca me desfaço do sonho alheio, aplaudo alto ou torço em silêncio. 

No final do túnel existe uma luz? Não! Existe um arco-íris, mas parece que todos escolhem, justamente, a treva.  Nem olham dos lados e protegem suas próprias vidas das outras pessoas. Deixam de dividir os momentos mais importantes de sua passagem por aqui.  Escondem seus corações como se fossem ser roubados! Não! Ninguém pode pegar o coração alheio.

Pode pegar ódio, negligencia e também esquecimento. Sim! De tanto se fazerem de falsos humildes ganham o total esquecimento dos outros. O mundo é caliente e friagem, merece blusas e cachecóis, ou quem sabe ainda, fuga para um paraíso de sol... 

Estou á procura da luz e vou escolher uma cor para viver primeiro, depois outra, outra. Fique ai curtinho sua sepiedade  de luzes amarronzadas, essa ai para mim ficou minutos atrás.

Sinto-me mais leve.

Márcia Alcântara
Verão 2013