26 de junho de 2010

Diário 8?!

É chegado o inverno. A lua brilha no céu e os lobos querem uivar. Eu aqui admirando tudo fico parada no ar. Meu coração continua batendo, batendo, batendo. Por várias vezes sinto meus ouvidos silenciarem, meus pensamentos pararem. O gosto do chocolate meio amargo torna-se mais amargo que o normal.

Procuro explicação. Mas não consigo encontrar. Essa vida, nesse mundo, ta muito complicada. Estou cansada de viver e ter que procurar provas e explicações. Quero minha vida limpa. quero poder uivar e não explicar nada para ninguém, nem mesmo para mim. Quero agir sem esse pudor horrendo que colocaram como couraça no mundo!

Cansada. Mas é chegado o inverno. Não posso fazer como fazem alguns animais e fugir para procurar um lugar quente ao sol. Vou ter que me acomodar por aqui mesmo, ficando gélida ao sol. E a luz por vezes ainda me incomoda pois sinto frio e quero a escuridão para descansar.

Quem sabe quando do meu descanso voltar, voltarei também a admirar a luz. Por hora, me contento com a lua cheia brilhando no céu negro, a tentativa frustrada de uivar, o vento frio a tocar a face, os pensamentos feito turbilhão, a audição como um caleidoscópio e o chocolate meio amargo que minha saliva derrete!

Márcia Alcântara
Inverno 2010

13 de junho de 2010

Diário 7?!

É no outono que as folhas caem. De certa maneira, faço parte da natureza, e eu não, não posso cair. Não posso me dar ao luxo de aquietar-me, ficar só ou quem sabe mesmo despencar assim como fazem as folhas.

Preciso estar, seja em qual época for, de bem com vida, com as folhas belas e sempre saudáveis. Preciso estar sempre de plantão para ajudar um e outro. Preciso estar sempre quente para poder dar calor. Também preciso me aquecer. Preciso estar sempre amável e dar aquém eu sinto que precisa, um carinho. Também preciso dele, do carinho e também da reciprocidade dos não-eu. Preciso estar sempre sensata, a fim de ajudar aos não-eu a tomarem suas decisões. Também preciso delas, das decisões.

Bom, as pessoas, em sua maioria, de mim se diferem. É um fato marcante que tenho para mim: as pessoas, todas, não são como eu, pois eu sinto que sou única. Na verdade estou com medo de não ser desse planeta, ou quem sabe eu tenho muitos sentires de uma vida passada onde todos viviam em harmonia.

O fato é que sinto-me longe de uma harmonia. Nada mais sustenta a vontade do meu ser de entender e desentender tudo e todos. É uma vontade que anda me fazendo bem, mas que de repente cai, assim como fazem as folhas no outono.

A única coisa que sinto, é que com o passar do que nomearam de tempo, esta passando e se esgotando. E tudo esta descolorindo de forma muito rápida. E os não-eu parecem não sentir isso. Talvez eu sofra de algum mau não descoberto aqui nesse mundo. Mas não sei qual é o meu mundo. Em resumo, o que sinto na verdade é uma perdição, e não consigo encontra-me de maneira alguma, será que a minha essência se perdeu em meio as folhas de um outono qualquer?

Márcia Alcântara
Outono de 2010