Hoje foi uma manhã atípica. Estou
de férias, próximo a reserva da Juréia, sempre venho á praia, mas hoje teve um gosto
especial.
Escalei as pedras, olhei o mar,
senti calor nos pés, havia muito que não sentia tantas sensações. Senti o
cheiro do mar, a brisa do vento, o calor do Sol. Senti o sabor preso nas
pedras, eu não queria, mas meu corpo pediu, cheirei e coloquei a boca na pedra,
eu poderia não ter outra oportunidade. O gosto é algo tranquilo por assim dizer,
talvez um pouco seco. Também tateei e percebi as imperfeições perfeitas das
pedras. Escutei as ondas chocarem-se com o paredão, sim escutei as águas chorarem
e rirem ao mesmo tempo. Os paredões
permaneciam imóveis e se refrescavam quietamente.
Estava com a máquina fotográfica,
ou melhor, as duas, a máquina digital e o meu coração, que é melhor também que
seja uma máquina, e este registrava com mais fidelidade todos os
segundos. Eu senti medo! Muito! Não de perder a máquina, mas de que nunca mais
eu pudesse estar ali e sentir tudo o que
estava sentindo, ou que ali, ou que
aquele momento não existisse. Ando tendo uns medos estranhos, tenho medo de que
as coisas que eu goste muito não existam e que os momentos vividos sejam apenas
fruto da minha imaginação.
Fui de volta a areia, estava
quente e Sol parecia atravessar a pele com raios calientes fortíssimos. Escutei um chamado, eu ouvia meu nome
perfeitamente, era uma voz doce e encantadora. Mas eu não via ninguém.
Sentei-me na areia olhei maravilhada a
paisagem, que ao longe mostrava-me duas ilhas, uma maior, outra menor... o
chamado continuava e quando percebi o que me chamava, não fiquei em choque, e
atendi prontamente o chamado, eram as ondas que ao tocarem já calmas a areia, sussurravam
meu nome...
Levantei-me e fui ao encontro do
mar. Fazia muitos anos que eu não ia tão fundo ao encontro das ondas, e a muito
não sentia a suavidade e a agressividade
das ondas baterem no meu corpo. Uma dualidade de sentimentos, uma dualidade de entendimentos.
Fiquei por ali algum tempo, exatamente não sei, mas o tanto necessário para que
a água, salgada e sincera, fizesse de
mim, naquele instante, um ser mais
leve...
Márcia Alcântara
Verão 2013
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