21 de dezembro de 2010

Diario 29?! Crime...

Às vezes eu paro e fico imaginando o comportamento das pessoas. Não que eu queira parar e ficar admirando, mas meu jeito é assim e quando dou por mim já parei e refleti. Ainda não tenho comando de tudo em mim, isso é um fato concreto.

Dos fatos abstratos é que não consigo entender os outros. Tento por vezes me espelho em algumas atitudes e algumas ações alheias, mas elas me soam asquerosas. Não consigo agir dessa maneira.

Não sei julgar o certo e o errado. Mas de fato penso ser um ou outro, ou é certo ou é errado. Eu não sei mais como sou e como devo agir. Não quero mais que saiba quem sou. Me julgo ser serena, pura e ingênua, mas quando faço um exame de consciência, percebo que sou também asquerosa.

Asquerosa no sentido de que amo intensamente, quando deveria repudiar...amo intensamente na medida que não posso amar, meu tempo já passou, além do mais nem todos merecem meu amor...amo na medida de dizer quem sou e ser amável em todos os sentidos, e isso é errado......amo na medida em que era necessário mentir, mas minha natureza disse a verdade com todas as letras que se podia dizer.

Deixo que os outros produzam provas contra mim mesmo, dou á eles estes subsídios. Não posso reclamar. Estou agora presa, sem direito a defesa alguma. Meu crime? Ah não pergunte, posso me complicar ainda mais, pois não sei mentir, mas de agora em diante vou tentar, eu juro que vou.

Mas como sei que quer saber, meu crime foi: ser sincera demais e amar demais...e por hora cometo mais um, dizer a verdade!

Agora andarei como todos andam, mentindo, escondendo-me, repudiando os outros, ignorando os afetos, exaltando falsidade e inalando a droga da ignorância... acho que e agora estou fazendo como todos fazem e julgam ser o certo, estou mentindo!

Condene-me. Mas absolva-se se for capaz!

Márcia Alcântara
Verão de 2010

Diário 28?!

As coisas são todas estranhas. Sinto uma estranheza em todos os lados, e em mim. Por hora sei que sou e o que quero, mas em questão de instantes, tudo volta pro lugar certo ou errado, não sei direito!

Atordôo-me com muita facilidade e meu eixo deixa de ser meu centro. Fico estática e parada sem saber o que fazer ou que sentir... mas é quando de repente um onda de sentimentos me invade, e então fico afásica!

Me sinto confiante, elegante... mas, minha vida é repleta de mas...e mais uma vez no meio de tantas coisas que existem no mundo me deixo de lado...sinto o cheiro da chuva, o barulho do mar, gosto do chocolate meio amargo, sinto a textura da pele alheia e vejo a ternura nos olhares, mas não sinto-me.

O mundo então, parou... mas na vida de mas, eu sai e na noite bela e de vento suave, fui olhar a lua, mas ela estava encoberta pela camada tenra da terra. Queria esquecer de tudo o que o é bom ou o que é ruim... detesto jogar, e partir e agora não sou mais quem eu era antes. Não quero que sintam mais meu perfume.

Por hora não sinto nada...e a tudo eu, sinto!

Márcia Alcântara
Esperando que a primeira chuva do Verão lave minh’alma - 2010.

15 de dezembro de 2010

Diário 27?!

Inquietação
Almejamos o tempo inteiro e vivemos para conquistar. Não sabemos de princípio o que queremos, mas vivemos a querer. Tanta luta, que por vezes se torna até mesmo uma tortura, que alterna em nós, internamente e externamente, momentos de felicidades.

Pré-conquistas elaboradas, pré-requisitos conseguidos, com suor e esforço, e sempre a recompensa do esforço feito é obtido. Sempre novos e novos projetos...

Alegria por descobrir que se pode ainda mais, e então, seguimos cegos em nossas querenças e mais querenças. Por vezes não enxergamos ao lado, ou mesmo o perigo que vem á frente. Vamos sempre adiante e diante, querendo sempre mais e mais. Descobrimos novas palavras, novos conceitos, novas formas de viver. Desprezamos o que achamos não mais servir e cegamente lutamos com nós e intimamente e discretamente com o outro.

Mas de tudo isso, de todas estas querenças, que um dia conseguimos tornar verdadeiras em nós e para nós, sobra algo que corrói e não explica-se, que dói e não se tem remédio. A angústia domina o ser e vai fazendo com que vivamos essa vida que não conseguimos explicar.
Não conseguimos explicar a nossa vontade sendo realizada. Que tipo de realização é essa? Que machuca e que faz com que sintamos uma sensação de morte?

Luto agora comigo mesmo e tento estar feliz, mas não consigo. Quem sabe este seja um novo projeto de vida: ser feliz. Mas ao que tudo indica essa felicidade não pode nunca ser conseguida ou alcançada, ela seria o fim de tudo em mim e para mim.

Márcia Alcântara
Dias angustiantes de primavera 2010

10 de dezembro de 2010

Diário 26?!

Ao estar comigo deve saber que não sei nada. Compreender que nem eu me compreendo. Sou infinitamente perdida dentro de mim mesmo. Não se surpreenda. Sou muito pequena quando refiro de mim. Amo infinitamente quem se esta o meu lado. Sou sincera, amiga, amante. Não gosto de fazer uso dos conceitos, todos eles são diferentes do que dizem. E em mim isso se torna evidente. Detesto cobranças.

É importante entender que não sou como todo mundo. Todas as coisas para mim possuem outro valor que não o convencional, inclusive o tal do amor. Nada em mim é de mentira, assim como nada é de verdade, tudo em mim sou eu! Não acredito na traição. Acredito que cada pessoa é.

Se pretendes estar na minha vida, entenda que só estás por que ganhou –me, ganhou meu coração e minha confiança, meu ser. E assim entrego-me de corpo e alma. Nunca sou extremamente feliz, e nem extremante triste, estou e sou a minha própria condição. Não gosto do doce e nem do azedo, gosto do que me faz sentir eu mesmo, e quando me sinto angustio-me. Essa angústia me leva a diante. Não me critiques, por hora sou assim.

Gosto de você nessa medida. Na medida que entende a mim como eu e não como você. Amo-te na medida que compreende que nem eu me compreendo. Entrego-me quando sentir que você também não me entendeu. Sou sua. Assim eu sou, quando nada não é.

Márcia Alcântara
Primavera de 2010

5 de dezembro de 2010

Diário 25?!

Não sei mais o que esperar dos dias, das tardes, das noites... ando a espera de muito e tenho a sensação do nada. Preservo-me para que não pareça que quero tudo, mas esta ficando difícil esconder. Tendo escapar de mim, de ti, do mundo... mas nada parece funcionar.

Ando tão a flor da pele!

Encontro um ‘mas’ em tudo e em todos, nas horas, nos minutos nos segundos, na minha vida, na sua, na vida dos outros. Existe algo em mim que não consigo falar e nem escrever, enfim, não posso extrapolar, é errado, é certo, exagerado. A ansiedade domina meu ser, que mesmo sem eu querer, invade-me. Choro. Todo o tempo sem saber os motivos. No fundo no fundo até sei, mas não adianta entender.

Ando tão a flor da pele!

Sem saber aonde ir, sem saber onde quero chegar. Cega para o que consegui, cega para o que vai chegar. Tonta e perdida na clareira da vida... do escuro tenho medo, mas na luz não enxergo. Procuro algo que me preenche, mas cheia me sinto.

Ando tão a flor da pele!

Quero-te e não quero-te. Sou e não sou. Entendo e desentendo. Procuro e não encontro. Encontro e não quero mais. Não sei o que acontece, finjo não saber. O que? Se algum dia já me conheci? Não pergunte-me isso agora, seria muito complicado responder...

Ando tão a flor da pele!

Márcia Alcântara
Tarde de primavera que chove, onde de manhã o sol reinou e a noite não terá Luar...

1 de dezembro de 2010

Diário 24?!

Não tenho opção quando abro os olhos de manhã. Já não reconheço o que me faz bem e o que me faz mal. Muitas vezes tento ver positivamente as infinitas possibilidades de um dia que é finito, mas não é que acontece. Tenho vontades possíveis que se mostram impossíveis. E o que é impossível surge com uma freqüência estranha.

Tudo a minha volta parece conter algo perturbador. O que é bom me tira a atenção assim como o contrario também é verdade. O dia clareia, faz sol e vem a chuva...não há estabilidade nem na natureza, quem dirá em mim.

Cobro-me e tento fazer com que tudo saia corretamente certo. Amar quem devo, admirar quem conheço, ser educada e prestativa... mas, meu coração não anda mais correto, quero xingar, fazer o errado, falar verdades nunca ditas... De felicidade á incertezas, assim meu ser parece seguir para algum lugar que não me contou. Talvez ele também não saiba onde quer ir. Devo então perdoá-lo. Mas o que é mesmo o perdão?

Apenas me sinto um tanto quanto cansada. Cobranças internas e externas parecem dominar a minha vida. Vida incerta, vida incorreta... existência certa e odisséias corretas. Tudo muito certo e muito justo. Sempre! Mesmo o que não é. E o que é justo e certo mesmo? Quando se trata de mim, eu não sei dizer! Detesto conceitos.

Sei apenas que os dias passam, e me (des)conheço ainda mais. Sei que o tempo se vai e eu estou apenas chegando para mim mesmo. Tudo parece ser um tanto estranho, mas assim também eu sou.

Escrever é um modo de escapar de mim, daqui e de lá.

Márcia Alcântara
Primavera perturbadora 2010